No estudo da língua é possível encontrarmos pontos de vista distintos sobre a presença da variação linguística, que se dividem entre os estudiosos que vêem a linguagem como um sistema homogêneo e os
sociolinguistas (ou
variacionistas), que a observam como
um sistema inerentemente variável. É deste último ponto de vista que iremos tratar nesta postagem.
Segundo o estudo sociolinguista uma mesma língua pode variar de acordo com a localização geográfica (
variação diatópica) e aspectos sociais (
variação diafásica). Esses variantes podem ser
lexicais,
fonéticos,
morfológicos e
sintáticos. Além disso, de um modo mais abrangente, o fato de termos inúmeras línguas já caracteriza a heterogeneidade da linguagem humana. Porém iremos focar somente no português brasileiro, e vamos começar explicando sobre as variantes da língua:
Variantes Lexicais
Há léxicos, ou vocabulários, que são de uso mais comum em cada região do país. Apesar de existirem diversos léxicos referindo-se a uma mesma coisa no país todo, alguém que ouve um vocábulo desconhecido não o identifica como um idioma diferente, pois reconhece os fonemas e o padrão silábico do português brasileiro nele, mesmo não entendendo, de início, seu significado.
"Bá, me vê dez cacetinhos, por favor, tchê!"
No Rio Grande do Sul o pão francês, mais conhecido como somente pão ou até mesmo pãozinho, no diminutivo, na maioria do Brasil, é referido como cacetinho.
Variantes Fonéticas
Outra variação que podemos encontrar é a da pronúncia. Uma mesma palavra pode ser pronunciada de maneiras diferentes dependendo da região ou da situação comunicativa da qual o falante se encontra, e as variações podem ser inúmeras.
"Ixquesi o ixqueiro na ixcola e fui buxcar de ixqueite"
"Esqueci o isqueiro na escola e fui buscar de skate." É comum na fala regional do Rio de Janeiro a palatalização no som /s/, ou seja, uma articulação bucal diferente ao pronunciar o fonema, fazendo com que, no caso, o som de /s/ soe chiado como o som de /x/.
Variantes Morfológicas
Essa variação acontece quando o falante apaga ou altera algum morfema da palavra ao falar e, diferentemente das outras variações, não é essencialmente diatópica, mas sim diafásica e frequentemente individual. Um mesmo falante pode falar "andar" e "andá" dependendo se a situação comunicativa é mais formal ou informal, respectivamente.
"Adoro andar na praia!" / "Adoro andá na praia!"
Variantes Sintáticas
A variação sintática ocorre no nível da sentença, onde existem mais de uma maneira de construir uma mesma frase sem mudar o seu sentido.
"Este é o gato cujo eu adotei há um mês"
"Esse é o gato que eu adotei mês passado."
As variações sintáticas também são diafásicas e individuais, variando de acordo com o grau de formalidade da situação comunicativa. O primeiro exemplo é mais formal, e seria estranho adotar tal construção sintática numa roda de conversa entre amigos. Esses dois exemplos não são as únicas construções existentes para essa frase: é possível dizer a mesma coisa usando diversos modos.
Comunidade de Fala
Uma língua é caracterizada por um conjunto de regras, e quando um certo grupo utiliza certas variantes dessa língua, denomina-se Comunidade de Fala. Apesar da fala ser individual, ou seja, cada pessoa falar de um modo único e pessoal, ela ainda segue a mesma gramática (conjunto de regras linguísticas) de seu grupo de fala.
Cada agrupamento de falantes possui características linguísticas comuns, e como comunicam-se mais entre si do que com outros grupos há a manutenção dessas regras, o que também leva a um distanciamento entre os grupos, já que como raramente se relacionam não há a troca de características. A atitude diante do uso da linguagem também muda entre os grupos; cada grupo tem uma atitude sobre o que fala e sobre o que os outros falam, e escolhe o que seria o melhor. Essas atitudes estão delimitadas não somente por fronteiras geográficas, mas também por fronteiras sociais e, às vezes, podem até mesmo marcar algum tipo de
preconceito linguístico.
"Biscoito!"
"Bolacha!"
O estudo da variação linguística
Para realizar os estudos de variação linguística os sociolinguistas primeiramente coletam um conjunto de dados, denominado
corpus, através de gravações e transcrições ou os obtendo em algum banco de dados específico, como o Projeto NURC (Norma Urbana Culta). Após isso são realizadas análises qualitativas desses dados, observando as variantes e levantando hipóteses as relacionando à fatores sociais e linguísticos. Por fim esses dados são transformados em dados quantitativos e estatísticos através de um programa de computador chamado VARBRUL. Ainda há inúmeras pesquisas a serem realizadas no campo da variação linguística, relacionando o uso das variantes à fatores extralinguísticos como idade, escolaridade e nível econômico para que possamos entender como essas diferenças sociais influenciam na formação de comunidades de fala e como essas comunidades influenciam na evolução da língua ao passar dos anos.
Bibliografia:
FIORIN, JOSÉ LUIZ.
Introdução à linguística I - Objetos teóricos. Editora Contexto, vol. 1 – São Paulo, 2006.
Texto e arte por Jéssica Lima